Brasil/MundoNotícias

Médicos e familiares de pacientes descrevem colapso com falta de oxigênio em Manaus; leia relatos

Manaus está em colapso com o avanço dos casos de Covid-19: as internações bateram recordes, as unidades de saúde ficaram sem oxigênio, e pacientes estão sendo enviados para outros estados.

Os cemitérios, que também estão lotados, ampliaram o horário de funcionamento e instalaram câmaras frigoríficas. Para frear o vírus, o governo decidiu proibir a circulação de pessoas entre 19h e 6h em Manaus.

G1 reuniu relatos de pacientes, familiares e médicos sobre a crise sem precedentes. Leia abaixo e assista à reportagem do Jornal Nacional:

Em Manaus, hospitais lotados ficam sem oxigênio e pacientes são transferidos para outros estados

Em Manaus, hospitais lotados ficam sem oxigênio e pacientes são transferidos para outros estados

A médica residente Gabriela Oliveira, do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), diz que a falta de oxigênio deixa os profissionais desesperados.

“O que eu vivi hoje, nem nos meus piores pesadelos eu pensei que poderia acontecer. Não ter como assistir paciente, não ter palavras para acalentar um familiar. Isso é uma coisa que vai ficar uma cicatriz eterna nos nossos corações (…). Já não temos mais saúde mental para lidar com a situação que Manaus está enfrentando. Hoje acordamos no nosso pior dia, a falta do oxigênio em algumas instituições nos deixou desesperados. É muito angustiante a gente não ter o que fazer”, disse ela.

Médica de Manaus fala sobre falta de oxigênio em hospital

Médica de Manaus fala sobre falta de oxigênio em hospital

Um funcionário do Hospital 28 de Agosto conta que a falta de equipamentos e de oxigênio obriga as equipes a adotar procedimentos manuais para tentar manter os pacientes vivos. Eles são “ambuzados” no chão. “Ambuzar” é fazer a oxigenação manual usando a força bruta.

“Em muitas ocasiões, a gente recebe paciente, a gente entuba e fica ventilando na mão até arrumar um ventilador. Mas é complicado, porque até oxigênio está faltando”.

O epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz do Amazonas, afirma que os hospitais de Manaus viraram “câmaras de asfixia”. Segundo ele, a falta de oxigênio e a necessidade de fazer ventilação manual pode causar sequelas aos pacientes.

“Nós assistimos parte dos hospitais de Manaus e das unidades de pronto-atendimento se transformarem em uma espécie de câmaras de asfixia, onde muitas pessoas perderam suas vidas, outras ficaram com oxigenação insuficiente, com ventilação manual, o que certamente pode resultar em sequelas gravíssimas.”

A cozinheira Michelle Viana perdeu o pai por falta de oxigênio no Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Dr. José Lins.

“Foi falta de oxigênio. Vocês não tem noção como estava às 8h30 da manhã, a gritaria, era gente morrendo. Até os profissionais de saúde, estava todo mundo chorando.”

Cozinheira diz que pai morreu por falta de oxigênio em Manaus

Cozinheira diz que pai morreu por falta de oxigênio em Manaus

O promotor Públio Bessa conta que carregou nas costas um cilindro de oxigênio para salvar o filho, internado há 3 dias na Fundação de Medicina Tropical.

“Eu tinha uma bala de oxigênio de 10 metros cúbicos, carreguei nas costas, entrei no hospital desesperado. Todos os médicos e enfermeiros sem condições de fazer absolutamente nada. A única solidariedade era o olhar de choro de todos eles.”

“Eu cheguei na hora exata, meu filho não tinha mais oxigênio, e consegui instalar bomba de oxigênio dele”, diz.

Promotor de Justiça diz que carregou bala de oxigênio nas costas para salvar filho

Promotor de Justiça diz que carregou bala de oxigênio nas costas para salvar filho

O professor de educação física Walederson Brandão diz que precisou comprar um cilindro para não interromper o tratamento da mãe.

“O oxigênio foi parando, os pacientes foram agonizando nas macas e as enfermeiras não sabiam o que fazer. Acabamos de gastar R$ 450 com balas pequena e R$ 1 mil com uma bala de 5 litros que vai durar 1h30″.

A técnica de enfermagem aposentada Solange Batista também precisou buscar um cilindro por conta própria para a irmã.

“Estou tentando correr atrás de alguém que encha o cilindro. Mas não é só a minha irmã. Graças a Deus a gente ainda pode comprar, mandar encher. Mas e quem não pode? Como fica? Tem muita gente morrendo. Muita gente. E cadê o governo?”, diz ela.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, comparou a situação de Manaus a um cenário de guerra.

“Nós estamos em uma operação de guerra. Hoje, o oxigênio é o produto mais consumido diante dessa pandemia de Covid-19. Hoje, o estado do Amazonas está clamando, está pedindo por socorro.”

Acompanhantes de pacientes internados dizem que o Hospital 28 de Agosto está fazendo racionamento de oxigênio para prolongar os estoques. Assista ao relato abaixo:

Familiares dizem que hospital reduziu oxigênio de pacientes com Covid-19

Familiares dizem que hospital reduziu oxigênio de pacientes com Covid-19

Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas informou que as unidades de saúde operam com limitação de oxigênio e passaram a adotar um novo protocolo para “uso racional”.

Um homem que não se identificoudiz que a mãe, que é diabética, buscou atendimento no Serviço de Pronto Atendimento do Alvorada e encontrou as portas fechadas. O local tinha atingido a capacidade de atendimento.

“Caso gravíssimo de diabetes, médico pediu urgente para tomar soro com insulina, senão vai morrer. Ele encaminhou pra cá só para tomar soro com insulina, para ver se baixa, para tentar sobreviver”.

Com hospitais cheios, Manaus enfrenta uma crise no abastecimento de oxigênio — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Com hospitais cheios, Manaus enfrenta uma crise no abastecimento de oxigênio — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Familiares de pacientes internados com Covid-19 em Manaus fazem operações do lado de fora — Foto: Bruno Kelly/Reuters
Familiares de pacientes internados com Covid-19 em Manaus fazem operações do lado de fora — Foto: Bruno Kelly/Reuters

O vídeo abaixo explica, em 5 pontos, a crise em Manaus.

5 pontos sobre a Covid-19 no Amazonas

5 pontos sobre a Covid-19 no Amazonas

Prioridade nacional

Na quarta-feira (13), o ministro Eduardo Pazuello disse que a prioridade na vacinação contra a Covid-19 será a cidade de Manaus, devido ao aumento rápido no número de casos nos últimos dias.

“Vamos vacinar em janeiro. E Manaus será também a primeira a ser vacinada, eu fui claro? Ninguém receberá a vacina antes de Manaus. A vacina será distribuída simultaneamente em todos os estados, na sua proporção de população. E Manaus terá a sua prioridade também”, disse Pazuello.

Fonte: G1